domingo, 21 de julho de 2013

O Realismo Literário e as Obras de Martin - Comparação entre Dom Casmurro e ASOIAF

"Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é este propriamente o resto do livro."
~ Dom Casmurro, Machado de Assis




A literatura fantasiosa de George R. R. Martin apresenta evidentes similaridades com o realismo literário, não apenas em suas descrições por vezes bastante minuciosas, ou pela elaboração dos aspectos psicológicos dos personagens e até mesmo pela quebra dos paradigmas do romantismo presente em suas obras e no realismo. Não bastando tudo isso, há personagens que podem se refletir em reconhecidas obras do movimento citado.

Como um movimento artístico, não apenas literário, o realismo apresentou-se na Europa a partir das últimas décadas do século XIX, predominantemente na França, espalhando-se para os outros países. Aqueles que integraram tal movimento desejavam ir contra a artificialidade e o surrealismo do neoclassicismo e do romantismo, buscando trazer, através da arte, a realidade de maneira menos distorcida e elitizada. E, assim, naturalmente, demonstrar as facetas não tão nobres dos seres humanos, protagonistas de sua expressão.

A respeito do reflexo do realismo nas artes brasileiras, pode-se dizer que o mais famoso integrante do estilo, quanto à literatura, foi sem dúvidas Machado de Assis. Usaremos Dom Casmurro para esta análise de agora.

Machado de Assis foi um dos mais importantes escritores brasileiros, com obras de renome internacional como Memórias Póstumas de Brás Cubas e o próprio Dom Casmurro, cuja narrativa repleta de digressões, sarcasmo e crueza aproxima-se um tanto do estilo literário de George Martin. É possível aferir dos livros do autor seu interesse cada vez maior de aprofundar a análise do comportamento do homem, revelando algumas características próprias do ser humano como o egoísmo, a inveja, a vaidade e a luxúria, todas encobertas por uma aparência boa e honesta, como é o caso do protagonista Bentinho, do romance supracitado.

Já George R. R. Martin afirma que em seus livros de fantasia não se apresentam heróis nem vilões. Para um escritor do gênero da fantasia medieval, isso é algo um tanto inusitado. Apesar das controvertidas atitudes, por meio da narrativa em pontos de vista de diversos personagens, somos capazes de fazer uma segunda, uma terceira e uma quarta análise dos desejos, caráter e objetivos de um personagem em questão, modificando completamente nossa opinião inicial. São os casos de Jaime Lannister, Theon Greyjoy e outras complexas figuras construídas e desconstruídas ao longo da saga.



"Com que direito o lobo julga o leão?" 
~ Jaime Lannister em A Tormenta das Espadas

Quando vamos para a cabeça de seus personagens, podemos ver o que eles pensam e não temos a percepção de que há apenas bons ou apenas maus…Não. Meus personagens não são preto e branco, como a fantasia tradicional clichê. Eu não tenho o lado típico branco, com pessoas muito boas, e o lado ruim, composto por pessoas feias e más, que só usam roupas pretas. Eu fui sempre muito impressionado por Homero e sua Ilíada, especialmente a cena da luta entre Aquiles e Heitor. Quem é o herói e quem é o vilão? Esse é o poder da história e eu queria algo semelhante nos meus livros. O herói de um lado é o vilão do outro lado.
Leia mais: http://www.gameofthronesbr.com/2012/10/entrevista-gigantesca-com-george-r-r.html#ixzz2Zh8KO6kB

Esta é uma excelente similaridade entre George R. R. Martin e Machado de Assis, especialmente quanto ao livro Dom Casmurro. O protagonista e narrador da obra é o mencionado personagem Bentinho, que se coloca em uma posição vitimizada perante seu amor insuperável por Capitu, par romântico do protagonista. Considera-se traído pela mulher, o amor de sua vida, por ver semelhanças físicas em seu filho quando comparado a seu melhor amigo, Escobar. Mas as desconfianças não vêm desse momento; Bentinho, desde criança, exibe um comportamento dependente e obsessivo, sentindo-se, por vezes, acuado pela astúcia natural da menina Capitu, travessa, capaz de enganar seus pais, mentir com facilidade, e outros atos 'misteriosos' para o personagem, criado de maneira conservadora por sua mãe religiosa, com ações superprotetoras e invasivas.

Assim, Capitu seria a "vilã" de Dom Casmurro, o pólo antagônico da história, e simultaneamente o interesse amoroso do protagonista. Seria o motivo do tormento de Bentinho, mas este não é um narrador confiável. Sabemos apenas seu lado da história, que pode ser apenas a faceta de um homem tornado mesquinho e atormentado por ciúmes patológicos e uma fixação obsessiva pelo amor de sua infância, capaz de transformar este sentimento antes puro em um vício, um vínculo doentio que mais o destrói do que o apraz. Inúmeros estudiosos da obra já afirmaram que a traição é inconclusiva, por conta da parcialidade do narrador, e da própria estrutura psicológica do personagem. A partir daí surge a dúvida: não seria na verdade Capitu a vítima de toda a história? Sabemos, pelo livro, que o casal se separa por conta, acima de tudo, da patologia ciumenta de Bentinho, impedindo qualquer tipo de convivência sadia e até mesmo de confiança mútua, posto que chega a extremos como desejar envenenar o próprio filho, supondo que a criança é fruto de adultério.

Tais desconstruções são também visíveis nos personagens de Martin. A ambivalência é aplicável a todos; não há um personagem totalmente puro e heróico em sua obra, assim como não há o típico vilão criminoso e megalomaníaco. Seus personagens são cinzas, capazes de agir de maneiras diversas, para o bem e para o mal, sempre oscilando entre um pólo e outro, e, portanto, comprovadamente humanos.

Além disso, as similaridades não param por aí; a construção psicológica do personagem Bentinho, antes um jovem inteligente, sensível e promissor, tornado um senhor amargo (literalmente, Dom Casmurro) pelas reminiscências de seu passado e a incapacidade de desapegar-se do mesmo, especialmente de sua obsessão amorosa por Capitu e sua possessividade incessante, assemelhando-se curiosamente a um personagem específico, inclusive por sua história de vida: Bentinho poderia ser, na verdade, refletido em Petyr Baelish, vulgo Mindinho.

Criado como agregado na Casa Tully em favor dos atos de seu pai, Lorde Baelish, na guerra das Nove Moedas, ajudando Hoster Tully, patriarca de tal Casa, Mindinho apaixona-se perdidamente por Catelyn, a mais velha das crianças, mesmo sabendo que seu sentimento era proibido; por ser quase um plebeu, um nobre nascido na mais pobre das Casas de Westeros, jamais poderia ter a mão de uma senhora de alto nascimento. Apesar disso, o personagem propõe um desafio para o noivo de Catelyn, Brandon Stark, o mais velho dos irmãos Stark da época, um guerreiro adulto, habilidoso, que vem a lutar contra si mesmo, um jovem rapaz franzino, um mero adolescente sem aptidão para as armas. Assim, perde o duelo de maneira tão agressiva e humilhante que, se não fosse pela interferência de Catelyn, teria sido morto.

Recuperando-se de seus ferimentos, o rapaz foi enviado de volta aos Dedos, sua moradia, e jamais viu Catelyn novamente, até os eventos do primeiro livro, A Guerra dos Tronos. Somos apresentados ao seu passado pelo ponto de vista de sua antiga amada de infância, que o via como um rapaz esperto, propício a travessuras, porém sempre contrito quando repreendido. Cat defende que ele a amava verdadeiramente, mas não sabemos dizer ao certo, uma vez que, novamente, só temos a visão de seu lado da história.


"- Petyr Baelish amou-me em tempos passados. Era apenas um rapaz. Sua paixão foi uma tragédia para todos nós, mas foi real, e pura, e nada de que se deva zombar. Desejava minha mão. É esta a verdade. É realmente um homem vil, Lannister.

- A senhora é realmente uma tola, Senhora Stark. Mindinho nunca amou ninguém a não ser Mindinho, e garanto que não é da sua mão que ele se gaba, é sim desses vossos maduros seios, da vossa doce boca e do calor que tem entre as pernas." 
~ Catelyn Stark, em diálogo com Tyrion Lannister, no livro Guerra dos Tronos


A partir de tais eventos, o personagem se transforma; torna-se um vassalo de Lorde Arryn, Senhor do Ninho da Águia, trabalhando em Vila Gaivota, território do Vale, pelo controle da alfândega local, onde ele aumenta as taxas em torno de dez vezes. Suas habilidades financeiras resultaram numa série de indicações, sendo inclusive convidado a tornar-se Mestre da Moeda, compondo o pequeno conselho em Porto Real, pelo Rei Robert Baratheon. Lá, sua influência cresceu com o estabelecimento de contatos e aliados, inclusive na Patrulha da Cidade, tornando-se também dono de inúmeros bordéis da capital.

Entretanto, jamais saberemos a visão de Mindinho. George R. R. Martin já avisou aos fãs que, nos próximos livros, não incluirá novos narradores na obra. Assim como Capitu, o personagem é um mistério; ele e Varys são estrategistas atuantes nos mais importantes fatos ocorridos dentro dos cinco livros, mas nenhum leitor é capaz de dizer, de fato, quem realmente são e o que em verdade querem. E, assim como Bentinho, é alguém que saiu de uma infância dourada, repleta de afeto e alegrias, para tornar-se um adulto no mínimo controverso.

A própria construção do personagem se dá pelo uso de diversas características típicas do realismo literário. Vejamos algumas aplicáveis e principais:

Oposição ao idealismo romântico, não havendo envolvimento sentimental: Mindinho nunca teve Catelyn, e, ao tentar a sorte como o perfeito herói romântico, pelo clichê do franzino garoto que desafia o homem forte que levaria sua amada, é quase morto, sobrevivendo apenas por conta da compaixão de Catelyn. Bentinho casa-se com Capitu, mas passa grande parte de sua vida marital especulando se sua esposa o amava tanto quanto ele a amava, e duvidando de sua fidelidade, especialmente após o nascimento de seu filho.
Representação mais fiel da realidade: as consequências de todas as ações típicas de um herói romântico apenas trouxeram a Petyr o fracasso. Todavia, ao corromper-se e tornar-se um indivíduo praticamente amoral, com posicionamentos niilistas e egoístas sobre o funcionamento social, consegue ascender e tornar-se um dos nobres mais influentes de Westeros. Bentinho, enquanto jovem, foi levado contra a vontade para o seminário, e, quando voltou, pôde casar-se com Capitu. Entretanto, a vida não foi feita de flores; temia que Escobar, seu melhor amigo, o qual se afeiçoara durante o tempo de seminarista, o traía com sua esposa, que inclusive teria tornado-se mais fria e distante quando o mesmo morreu tragicamente nadando no mar, em um dia de ressaca. Este foi o ponto alto para que a loucura obsessiva de Bentinho o levasse por completo, culminando com a destruição do que restou de seu casamento.
Romance é um meio de combate e crítica às instituições sociais decadentes, como o casamento: O platonismo impossível de Petyr é uma clara reflexão disso. Já em Dom Casmurro, a própria tragédia conjugal de Bentinho é o tema central do romance.
Análise dos valores burgueses com visão crítica denunciando a hipocrisia e corrupção da classe: George R. R. Martin constrói uma sociedade na qual os casamentos não passam de mero contrato, como assim o eram na Idade Média, e os laços por amor se concretizavam de forma escusa, ou não se concretizavam. Em Dom Casmurro, a família de Bentinho considerava Capitu pobre demais para ele, vendo a amizade dos dois com maus olhos.
Personagens analisadas psicologicamente: até mesmo os personagens sem ponto de vista, ou seja, sem capítulos narrados por si mesmos são controversos, com fragmentos ao longo dos cinco livros delineando seu passado e sugerindo porque são quem são e porque fazem o que fazem, como o caso do indicado. Já na obra de Machado de Assis, o narrador é o próprio Bentinho, o que nos permite mergulhar profundamente em sua personalidade controversa e difícil.



“O cantor de lorde Bracken tocou para nós, e Catelyn dançou seis danças com Petyr naquela noite, seis, eu contei. Quando os senhores começaram a discutir meu pai os levou para conversar em particular, então não havia ninguém para nos impedir de beber. Edmure ficou bêbado, jovem como era... Petyr tentou beijar sua mãe, mas ela o empurrou. Ela riu. Ele parecia tão ferido que achei que meu coração iria explodir, e depois ele bebeu até que desmaiou por cima da mesa."
~ Lysa Arryn sobre Catelyn e Mindinho jovens, em A Tormenta das Espadas


Curiosamente, a desgraça de Bentinho se dá por culpa de si mesmo. Não consegue lidar com o sentimento de inferioridade que sempre teve perante Capitu, perceptivelmente mais sagaz e independente, e muitas vezes sente-se menosprezado, não amado o suficiente pela esposa, chegando a possibilidade de ter simplesmente fantasiado o adultério que jamais existiu. Não há como se chegar a uma conclusão firme sobre a fidelidade de Capitu, mas pode-se afirmar tempestivamente que Bentinho, de certa maneira, enlouqueceu. O garoto antes apaixonado e inocente tornou-se um homem desconfiado e amargo, fechado no passado, incapaz de confiar na própria esposa, transformando sua paixão avassaladora em um sentimento de posse, rancor e ódio maiores do que toda a candura e pureza anteriores, que carregava em seu coração.

Para Mindinho, a desgraça foi a mesma. O personagem tornou-se um dos mais perigosos estrategistas políticos de Westeros, sem escrúpulos, de uma frieza maquiavélica, incapaz de sentir uma gota de arrependimento por quem derrubar em sua escalada ao poder. Em sua ganância destrutiva, a única capaz de despertar algum tipo de afeição e o resto do lado humano do personagem é Sansa Stark, a memória viva de sua Catelyn do passado, idêntica fisicamente à jovem moça que partiu o coração do pequeno rapaz de origem pobre. Foi salva de Porto Real por Lorde Baelish, que aparentemente deseja usá-la como ferramenta para espalhar seu poderio ao Norte de Westeros, uma vez que Sansa Stark pode ser a chave para Winterfell, em uma ação um tanto ousada para alguém antes tão calculista.

Ao mesmo tempo que Sansa pode ser um trunfo, é também procurada em todo o Reino, caçada pelos Lannister, que a consideram responsável pela morte do rei Joffrey Baratheon, sendo um risco muito maior do que o personagem se permitia antes correr. Teria algum motivo emocional nas ações de Mindinho, mesmo após tantos anos cultivando ações e desejos meramente egoístas? O que de fato motiva o "Bentinho" de George R. R. Martin?

"Petyr estudou-lhe os olhos, como se os estivesse vendo pela primeira vez. - Tem os olhos de sua mãe. Olhos honestos e inocentes. Azuis como um mar ao sol. Quando for um pouco mais velha, muitos homens irão se afogar nesses olhos."
~ Petyr Baelish em O Festim dos Corvos

“Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me."
~ Bentinho em Dom Casmurro, de Machado de Assis

"O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência."
~ Bentinho em Dom Casmurro, de Machado de Assis

E então? Sugiro uma pergunta menos repetitiva sobre Dom Casmurro, e uma sugestão sobre a saga de Martin: que conclusão tirar a respeito de Bentinho: vítima, vilão ou nenhuma das possibilidades? E sobre seu equivalente nos livros de Martin, tão misterioso quanto Capitu porém cuja personalidade e histórias passadas assemelham-se tanto ao controverso personagem de Machado de Assis?

Resta esperar que "a vaga que se retira da praia" traga consigo as respostas, ou que mantenha o mistério, tão fascinante e temível quanto as correntezas do profundo oceano...

12 comentários:

  1. Khaleesi, fico feliz por poder ler uma nova análise literária tão rápido!

    Realmente a influência do realismo na escrita de Martin nos brinda com essas grandes críticas sociais, compartilhadas com o grande Machado de Assis, mais especificamente a questão do matrimônio. Eu já via as Crônicas como uma versão mais fantasiosa e tão chocante quando os escritos de Assis, mas foi surpreendente as semelhanças entre Bentinho e Mindinho!

    Ambos praticamente se auto-destruiram por causa de um "amor" e mesmo apresentados na narrativa de maneira diferente, são até hoje um enigma para os leitores! Demais! Sucesso pro blog! Virei fã!

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    1. Somos dois fãs então, Dr. Manhatan!

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    2. Ahahaha, andei inspirada!

      Não é verdade? Realmente acho que há muitas semelhanças entre as personalidades dos dois, e a forma obsessiva com que encaram o amor.

      Fã? Uau, muito obrigada mesmo!

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  2. Texto simplesmente maravilhoso, inovador e bem fundamentado. Nunca pararia para pensar num paralelo tão interessante como esse. Na minha humilde opinião, creio que há muito mais em Mindinho do que se possa imaginar, como você coloca muito bem na sua ótima análise. Uma das coisas importantes nesse paralelo é a técnica narrativa de Point Of View, que serve tanto para construir e desconstruir personagens como Martin faz, ou ocultar personagens como Assis fez, ao 'esconder' Capitu (e se pensarmos bem, Martin também, em personagens como Varys, Willas e o próprio Mindinho). Isso nos deixa apenas a opção de imaginar e supor quem eles realmente eram. Como seria maravilhoso se pudéssemos escrever nossas vidas e tê-las escritas com POVs. Tantas coisas seriam evitadas ou realizadas!

    No caso do Mindinho, sou inclinada a acreditar que sim, ele realmente amou Catelyn, apesar da fala de Jaime Lannister (para Jaime, amor não é uma coisa épica, vemos isso quando ele pensa em Cersei: É desejar uma mulher e demonstrar isso através da fidelidade, acima de tudo. É provável que ele considere falar dos seios e da 'doce boca' de uma mulher algum tipo de afeto, mas procurou atingir Catelyn com sua fala). A prova disso são suas atitudes em Correrrio. Porém, acredito que devido as suas frustrações e ao que ele se tornou, atualmente ele ostenta esse amor como forma de ocultar artimanhas maiores. Acredito que depois daquela paixão avassaladora, ele realmente perdeu a capacidade de amar. Sua paixão agora é o poder, algo que poderia ser entendido psicologicamente como um distúrbio que o leva a punir todos aqueles que representam os opressores que estragaram sua vida. Sansa Stark não pode substituir Catelyn: Ela, creio eu, será acima de tudo, uma peça com que se jogar, e talvez, um interesse puramente sexual para Mindinho. Apesar de ser diferente de Bentinho nisso, eles compartilham em comum o desequilíbrio pós decepção que leva a instabilidade mental e a obsessão por mulheres superiores a eles. Mas isso só poderia ser conferido se é verdade através de um POV do Mindinho, que não teremos, infelizmente... E, finalmente, meus parabéns pela análise e que venham muitas outras! ^^

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    1. Muito obrigada pelos elogios! Concordo com você, não acho que Martin tenha se dado ao trabalho de construir um personagem denso como ele por nada. Muitos o veem apenas como uma espécie de gênio estrategista, mas para mim fica bem claro, por fragmentos ao longo dos livros, que há mais no personagem do que os olhos podem ver.

      De fato. Curiosamente a personalidade de Mindinho se encaixa com a de Bentinho, porém, por não ser personagem com ponto de vista, tem suas reais intenções e desejos tão misteriosas quanto Capitu.

      Concordo com tudo o que defendeu sobre a impossibilidade amorosa para um homem que agora só deseja o poder. Acho que o que move Mindinho é a amargura e a ganância de se provar alguém digno, como se pudesse se vingar "da vida", dessa maneira. Quanto a Sansa, não diria um interesse puramente sexual apenas, mas sim desejos e sentimentos bastante controversos emocionalmente, e, provavelmente, auto-destrutivos. Acho que, se houver uma grande queda para ele, será motivada por Sansa, mas ela não será a responsável para tanto, e sim a isca, a peça, movida por algum jogador melhor.

      Muito obrigada por todos os elogios e pelo lindo comentário!

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  3. Poxa... Eu como uma pobre criança de verão ainda esperava ver Mindinho tendo por Sansa um sentimento maior que mero interesse sexual, hahahahaha. Isso até nos daria a chance de ver a jovem Stark receber as investidas dele como se o "adolescente" dentro de Petyr estivesse à espreita, mas admito que o homem que ele se tornou após o ocorrido com Brandon não se dê mais esse tipo de abertura. Última observação: bem que eu desconfiei que você, Mera Es(x)pectadora, conhecia o Mindinho bem demais, heheheheeh!

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    1. Se haverá ou não, isso é uma questão para o Martin. Eu acho que está em aberto. Não acho que será algo puramente sexual por toda a construção complexa do personagem, mas lhe garanto que não será algo "romântico", por assim dizer. Provavelmente algo bem controverso emocionalmente, como parece ser desde agora.

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  4. Petyr “Mindinho” Baelish não passar de um arrivista social que nunca amou ninguém além de si mesmo. Ele nunca realmente amou as irmãs Tully (Catelyn e Lysa).

    A grande ironia da saga “As Crônicas de Gelo e Fogo” seria se o eunuco Varys e Petyr “Mindinho” Baelish (os dois melhores jogadores dos jogos de tronos) encontrarem a sua ruína nas mãos de seus principais peões: Sansa Stark e Aegon Targaryen (Blackfyre).

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    1. Devo discordar sobre o "nunca". Não vejo razão para alguém arriscar a própria vida em duelo com todas as chances contra si mesmo se não houver algum sentimento muito forte nisso. Acho que Martin mostra claramente que, antes de tornar-se quem é, Mindinho amou Catelyn, quando ainda era um adolescente iludido e inexperiente, e depois se corrompeu ao longo da vida, amando nada mais além do poder. Resta saber se haverá algum tipo de controvérsia emocional a respeito de Sansa, o que acho bem possível. Duvido muito que Sansa seja a responsável direta na queda de Mindinho, mas sim o motivo por trás da mesma, se esta ocorrer.

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    2. Me expressando melhor: acho muito simplório dizer que um dos personagens mais cheios de nuances e de mistério das obras de Martin é apenas um "arrivista social que nunca amou ninguém". Acho que há muito mais em Mindinho do que os olhos permitem ver.

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  5. adorei,queria que você fizesse uma analise da sansa em relação ao romantismo,ja que ela e uma critica do autor a Criaçao romântica que sansa teve,e que e sua ruína por bastante tempo

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    1. Muito obrigada! Colocarei na lista, hehehe! ^^ Sansa seria o exemplo da transição entre os três romantismos. Vou relacioná-la com Lolita também. Postei post novo hoje, caso queira conferir!
      Beijos.

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